Hospital do Coração de Londrina (PR) é referência em empreendedorismo



Em uma sala de hemodinâmica, uma equipe de médicos implanta, em uma paciente de 75 anos de idade, uma válvula aórtica transcateter (TAVI). O procedimento permite devolver qualidade de vida à mulher, que sofria com constantes crises de falta de ar por causa da válvula doente no coração.



O procedimento é feito de forma minimamente invasiva, exigindo apenas uma pequena incisão na virilha, por onde os profissionais inserem o cateter que levará a válvula nova até o coração da paciente. “Por causa da idade e outros problemas de saúde, essa senhora, provavelmente, não resistiria a uma cirurgia convencional”, comenta Arnaldo Okino, cirurgião cardiovascular e um dos diretores do hospital.



Enquanto isso, no centro cirúrgico de outra unidade da mesma instituição, um cirurgião urologista trabalha sentado, manejando, por meio de controles semelhantes a joysticks de videogames, os braços de uma plataforma robótica. Com os olhos fixos em um visor, ele tem imagens em três dimensões, ampliadas dez vezes, da bexiga vesical de um homem, de 61 anos.



Com a precisão que consegue por meio do robô, o qual executa movimentos impossíveis para a mão humana e filtra todos os tremores do operador, o médico retira o órgão, que tem um tumor cancerígeno, e reconstrói uma nova bexiga, utilizando parte do intestino do paciente.



Esses dois casos, que parecem futuristas mas são reais, poderiam ter se passado em hospitais de ponta dos Estados Unidos ou das principais metrópoles brasileiras, porém fazem parte da rotina do Hospital do Coração, de Londrina, cidade do interior do Paraná, de 569.733 habitantes, de acordo com a estimativa para 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).



A história da instituição de saúde é um exemplo dos casos de empreendedorismo das cidades médias do Brasil. Tudo começou em 2003, quando um grupo de seis profissionais, com atuação na área de cirurgias cardiovasculares e terapia intensiva, resolveu ter o próprio hospital para alcançar resultados de excelência nos procedimentos que já realizavam em outras instituições.



Sem grandes investimentos, fizeram parceria com uma empresa que já realizava exames laboratoriais e de imagens e inauguraram o Hospital do Coração de Londrina, com 22 leitos, apenas oito deles de Terapia Intensiva (UTI).



Das cirurgias cardíacas, expandiram-se o hall de especialidades atendidas em progressão geométrica, a exemplo da estrutura física e dos leitos. Em 2015, o prédio original, que eles chamam de Unidade Paes Leme, em referência ao nome da rua onde está instalado, chegou a 158 leitos e ficou pequeno.



“Mesmo a economia não estando aquecida naquele período, nossa marca já estava consolidada. Londrina é um polo regional e recebemos pacientes de muitos municípios. Tínhamos que expandir. E quando se trata de saúde, é preciso olhar para o futuro, pois as evoluções tecnológicas e de protocolos médicos são constantes”, destaca Cristina Sahão, diretora geral do Hospital do Coração de Londrina.



Naquele mesmo ano, a expansão citada pela diretora se concretizou com a inauguração da segunda unidade hospitalar, a Bela Suíça – nome do bairro que a abriga -, construída dentro de modernos padrões de arquitetura especializada, com ambientes amplos e confortáveis.



Uma das “ousadias” dos diretores do Hospital do Coração de Londrina foi a instalação de um heliponto, elevado, considerado excelente por quem é do ramo da aviação, na Unidade Bela Suíça.



A plataforma de pouso já foi fundamental em casos de remoções de crianças recém-nascidas, que vieram à luz em cidades sem equipes de cirurgia cardíaca infantil e precisavam de intervenção cirúrgica rápida. Vítimas de acidentes automobilísticos em estradas e de eventos cardiovasculares, como infartos e AVCs, também já se beneficiaram.



“Uma das nossas alegrias, com a inauguração da nova unidade, foi passar a atender crianças. Alguns de nossos diretores são referências em operar os corações dos pequenos, mas só atendíamos a adultos em nossa primeira unidade. Também passamos a ser muito procurados para cirurgias neurológicas, ortopédicas e gerais pediátricas. Temos profissionais médicos com formações dignas do primeiro escalão da Medicina brasileira”, complementa Cristina Sahão.



Atualmente, a Unidade Bela Suíça concentra 141 leitos para adultos e crianças.



Somando as duas unidades, são 300 leitos no geral. Só de terapia intensiva são 60 leitos. Um salto impressionante para quem, há 17 anos, tinha apenas oito vagas de UTI.



Em 2019, nas duas unidades foram atendidas 70 mil pessoas, entre internações e casos de pronto-socorro. Isso sem contar os atendimentos de consultas com horários agendados que o grupo oferece em três espaços planejados para isso.



No corpo clínico estão cadastrados 830 médicos, de todas as especialidades. Na carteira de clientes, 35 planos e seguros de saúde, inclusive internacionais. O Hospital do Coração de Londrina não atende ao Sistema Único de Saúde (SUS).



Questionada sobre como conquistar tamanha expansão e números tão expressivos de atendimentos em apenas 17 anos, Cristina Sahão não esconde o jogo.



“Em primeiro lugar, foi preciso trabalhar muito. Um hospital funciona 24 horas e todos nós estamos ligados o tempo todo. O segundo ponto foi identificar as carências, o que estavam buscando os pacientes. Muitos saíam da nossa cidade para procurar serviços nas capitais. Então, trouxemos profissionais e equipamentos para cá. Há aproximadamente um ano, quando implantamos a plataforma de cirurgia robótica, fato pioneiro em todo o interior da região Sul, muitos disseram que estávamos ficando loucos, que não haveria demanda. Resultado: já fizemos dezenas de cirurgias com o auxílio do robô e há uma fila de cirurgiões se qualificando para operar nele.”